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Lipoenxertia: da cirurgia plástica estética à restauração facial 
 
O enxerto de gordura corporal na face é uma técnica cirúrgica denominada lipoenxertia, capaz de restaurar o volume facial, por meio do preenchimento com a própria substância extraída do paciente. Por recuperar os contornos e proporções faciais, esta técnica proporciona significativa melhora na estética, mas também nos casos de correção das lipoatrofias faciais (diminuição da camada de tecido gorduroso por doenças ou como efeito colateral de alguns medicamentos) ou corporais. ”Graças aos efeitos de preenchimento e regenerador da pele, a lipoenxertia vem sendo utilizada com sucesso também na cirurgia reparadora na reconstrução da área facial que foi acometida de câncer cutâneo”, relata o cirurgião plástico Fábio Busnardo (CRM-SP 81566), responsável pelo Grupo de Cirurgia Plástica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) e pelo Serviço de Câncer de Pele da Divisão de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas.

 

 

Para entender melhor essa técnica usada em cirurgia plástica, entrevistamos o Dr. Fábio, que deu uma verdadeira aula sobre os benefícios da lipoenxertia facial tanto no uso estético como na restauração:

Qual o conceito da lipoenxertia?

Trata-se do uso de tecido gorduroso do próprio paciente como método de preenchimento de volume para fins estéticos ou de reconstrução. Esta gordura é retirada de uma região do corpo em que exista em excesso ou em que não fará falta (área doadora). Após um preparo cuidadoso desta gordura, ela pode ser injetada em local adequado para obtenção de resultado estético ou de reparação. A grande vantagem da lipoenxertia sobre os outros métodos de preenchimento com materiais sintéticos é o fato de a gordura ser naturalmente disponível em quase todas as pessoas, ser facilmente removida ou aspirada se necessário e, quando feita de forma adequada, tem resultados potencialmente definitivos.

Esta técnica cirúrgica é indica para quais tipos de casos?

Para fins estéticos, a lipoenxertia tem sua maior aplicação na cirurgia da face, porque a gordura pode ser injetada nos sulcos e rugas faciais, região periorbital e para preenchimento de volume na face.  Além do efeito de preenchimento, observa-se melhoria de rugas e da qualidade da pele.  O motivo deste rejuvenescimento secundário, de acordo com estudos clínicos, dá-se porque o tecido gorduroso é rico em células-tronco adultas, que podem ter um papel importante neste processo. Entretanto, o que realmente acontece para o desenvolvimento deste efeito regenerador da pele após a lipoenxertia ainda não foi cientificamente confirmado.
 
Graças aos efeitos de preenchimento e regenerador da pele, a lipoenxertia vem sendo aplicada com sucesso também na cirurgia reparadora. O uso dela em locais de cicatrizes está relacionado à melhoria de áreas de depressões e irregularidades da pele. Nota-se também o amolecimento e eventual clareamento do tecido cicatricial, aproximando o seu aspecto com aquele da pele normal. 
               

A lipoenxertia pode ser realizada durante uma reconstrução facial em casos de câncer cutâneo?

O uso de enxerto gorduroso deve ser evitado em reconstruções imediatas, após a retirada de tumores malignos. Deve-se ter cuidado na manipulação de áreas não comprometidas pelo câncer durante o procedimento de retirada do mesmo. Entretanto, o enxerto de gordura pode ser usado em reconstruções tardias, ou seja, um tempo após o processo de extração do tumor. A lipoenxertia pode ser aplicada como método de reconstrução para melhorar o resultado do procedimento inicial. Para isto, o cirurgião deve ter a certeza que o câncer da pele está tratado e curado antes de realizar o procedimento.
 

Quais os principais avanços na lipoenxertia?

O principal avanço é a compreensão de que quanto menor o trauma que o adipócito (célula gordurosa) sofra durante o processo de sua retirada da área doadora e a sua enxertia (injeção), maior será o sucesso e a durabilidade do procedimento. A gordura deve ser retirada com cânulas finas de lipoaspiração (2 a 3mm de diâmetro) por meio de pequenas incisões na pele. Este tecido gorduroso é centrifugado em equipamento específico, com o objetivo de separar os adipócitos do tecido que o circunda no líquido aspirado (óleo, sangue e tecido conjuntivo). Após o preparo, apenas o tecido gorduroso centrifugado é usado. A injeção na área receptora também deve ser cuidadosa. A gordura enxertada deve estar em contato com o tecido bem vascularizado da área doadora. Injeção de grandes volumes de gordura tem maior chance de reabsorção e perda de resultado. Portanto, o cirurgião deve ter experiência para quantificar o volume de tecido que pode ser enxertado em um único procedimento.
 

A lipoenxertia pode ser realizada somente com a própria gordura do paciente? Quais outras substâncias podem ser utilizadas?

Sim, o termo lipoenxertia é específico para o preenchimento com tecido gorduroso, sendo um método que usa tecido normalmente presente em boa quantidade, mesmo em pessoas magras. O uso da gordura do próprio paciente evita os riscos de reações alérgicas ou rejeições que podem ocorrer com outros tipos de preenchimento. A lipoenxertia é uma técnica alternativa aos preenchimentos convencionais com substâncias sintéticas como o ácido hialurônico, o PMMA e outros.
 

Pode-se aplicar a lipoenxertia em áreas menos convencionais, como panturrilha, braço?

O controle adequado da técnica de lipoenxertia é relativamente recente. Como todo novo procedimento as aplicações vem sendo estabelecidas. Estudos recentes relatam o uso dos enxertos de gordura para queimaduras, atrofias da face e até rejuvenescimento da mão.
 

A lipoenxertia pode ser usada na mama ou na lipoescultura?

O método pode ser usado em cirurgia da mama estética ou reparadora. Entretanto, o uso em cirurgia da mama deve ser feito por cirurgião experiente. Além disso, é importante análise criteriosa da mama e estratificação de risco da paciente para câncer de mama antes da cirurgia.
 
A enxertia de gordura também pode ser usada como método de harmonização de contorno corporal associada à lipoaspiração. O excesso de gordura aspirado pode ser injetado para preenchimento de irregularidades no abdome, tronco, região glútea e coxas. Aqui vale lembrar que a injeção de grande quantidade de gordura pode estar relacionada a uma maior reabsorção. Por isso,volto a ressaltar que o médico deve ter experiência para a indicação deste procedimento.
 

Como é o processo de absorção da gordura na área aplicada?

A gordura enxertada precisa estar em contato com tecido bem vascularizado da área receptora. Quando o adipócito é aspirado e centrifugado, ele perde a sua vascularização e a chegada de sangue até uma célula é fundamental para sua sobrevivência. É por este motivo que a injeção da gordura deve ser feita com cânulas bem finas no tecido subcutâneo (abaixo da pele). Este método posiciona os adipócitos em pequenos túneis perfurados na área doadora pela passagem destas pequenas cânulas de injeção, isso favorece o contato da célula de gordura com os vasos sanguíneos da região que recebeu o enxerto. Quando a técnica é inadequada ou uma grande quantidade de gordura é injetada, diminui a possibilidade de chegada de sangue e nutrientes aos adipócitos, aumentando a taxa de absorção da gordura transferida. Com o uso das técnicas atuais esta taxa de reabsorção é pequena - entre 0 a 15% do volume enxertado.
 
9. É mito ou verdade que a área que recebeu a gordura vai engordar se a pessoa ganhar muito peso?
Quando o enxerto é absorvido e integrado, o tecido gorduroso passa a ter um comportamento semelhante ao da camada de gordura própria da pessoa. Quando o peso de uma pessoa é estável, o resultado é mantido. Caso o indivíduo ganhe muito peso, é esperado que as áreas de lipoenxertia tenham aumento de volume semelhante ao restante do corpo. Entretanto, este fato é desejável. Caso não ocorra, pode aparecer irregularidades de contorno da face ou corpo.
 
10. Podemos concluir que a lipoenxertia é um procedimento seguro?
As lipoenxertias são procedimentos seguros. Entretanto, como em todo procedimento cirúrgico complicações podem ocorrer. Felizmente os problemas ocasionados por esta técnica possuem uma taxa baixa, quando comparada a outros procedimentos cirúrgicos estéticos ou reparadores. O paciente deve estar atento às explicações do cirurgião para seu caso. Pode também checar junto a entidades de classe médicas (Conselho Regional de Medicina e Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) se o médico está devidamente habilitado. A lipoenxertia é uma cirurgia plástica segura e efetiva quando bem indicada e realizada em local adequado por cirurgião devidamente habilitado e experiente.
 



 

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