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Áreas contaminadas: os perigos enterrados espalhados pelo país



Por Maurício Ferraz de Paiva

Não existem levantamentos confiáveis de quantas áreas contaminadas existem no país e nem o que esses terrenos contêm. Em São Paulo, havia, até dezembro de 2010, mais de 3.675 terrenos contaminados, sendo que 13% estão relacionados com o setor industrial. No resto do Brasil, não há dados disponíveis.

Uma área contaminada pode ser definida como uma área, terreno, local, instalação, edificação ou benfeitoria que contenha quantidades ou concentrações de matéria em condições que causem ou possam causar danos à saúde humana, ao meio ambiente ou a outro bem a proteger.

Quando não há tratamento no local, ocorre o denominado passivo ambiental que ocasiona sérias consequências ao meio ambiente e à saúde das pessoas expostas aos contaminantes, com prejuízos à imagem da empresa e penalidades previstas em lei. Em razão desse fato, a investigação de passivos ambientais está sendo utilizada em avaliações para negociações de empresas, principalmente naqueles relacionados com a aquisição de imóveis e em privatizações, pois a responsabilidade e a obrigação da restauração ambiental recaem sobre os novos proprietários. 

Funciona como um elemento de decisão no sentido de identificar, avaliar e quantificar posições, custos e gastos ambientais potenciais que precisam ser atendidos a curto, médio e longo prazo. Deve ser ressaltado, porém, que o passivo ambiental não precisa estar diretamente vinculado aos balanços patrimoniais, podendo fazer parte de um relatório específico, discriminando-se as ações e os esforços desenvolvidos para a eliminação ou redução de danos ambientais. Esse procedimento vem sendo seguido por empresas de todo o mundo.

O contato direto com o solo contaminado pode parecer algo distante para a maioria das pessoas, sobretudo, para quem mora em grandes cidades. Mas as consequências da má qualidade do chão onde se pisa podem estar mais próximas do que muita gente imagina. São diversos os tipos de substâncias que podem contaminar o solo e chegar até o organismo humano.

A contaminação ambiental por compostos derivados de petróleo como o benzeno, etilbenzeno, tolueno e o xileno se dá principalmente devido ao alto potencial poluidor e à elevada toxicidade destas substâncias. Daí o perigo de vazamentos em dutos e tanques de armazenamento subterrâneo em postos de combustíveis, por exemplo. Outra forma muito comum de contaminação é o descarte incorreto de resíduos industriais no solo. Independentemente da substância, a contaminação tem, ainda, um importante agravante: o contato com o lençol freático.

A recomendação, neste caso, é, além de não utilizar águas contaminadas para nenhum tipo de atividade, evitar até mesmo o contato com ela. Outra via de exposição da população à contaminantes é a ingestão de água proveniente de poços artesianos localizados próximo à áreas contaminadas, o que também deve ser evitado.

Outro cuidado essencial é com as crianças que brincam diretamente no solo e que podem até mesmo ingerir e/ou inalar partículas provenientes da terra contaminada. A presença de substâncias nocivas à saúde no solo também prejudicam animais e plantas, além das atividades pecuária e agrícola, o que reflete diretamente na saúde humana. Ao consumir vegetais contaminados, pode ocorrer um acúmulo de determinadas substâncias nocivas ao organismo.


Por esses problemas, foi publicada a norma ABNT NBR 15935: 2011: Investigações ambientais – Aplicação de métodos geofísicos que estabelece as diretrizes para a seleção de métodos geofísicos aplicáveis a investigações ambientais de solo e água subterrânea, embora não descreva os procedimentos específicos para cada método. 

O sucesso de um levantamento geofísico depende de muitos fatores. Um dos fatores mais importantes é a competência e a qualificação do(s) profissional(ais) responsável(eis) pelo planejamento e execução do levantamento, bem como pela interpretação dos dados. Pessoas sem treinamento especializado ou experiência devem solicitar assistência de profissionais qualificados.

Um entendimento adequado da teoria do método, dos procedimentos de campo, da interpretação dos dados, bem como conhecimento da geologia local são fatores necessários para realizar com sucesso um levantamento geofísico. Um determinado método eficaz para a investigação de um dado problema em uma área pode não apresentar a mesma eficiência para a investigação daquele mesmo problema em outra área devido às mudanças nas condições do meio físico/geológico.

Os métodos geofísicos são métodos indiretos de investigação que medem propriedades físicas da subsuperfície. Eles podem permitir o mapeamento lateral e vertical de uma ou mais propriedades físicas, ou ainda o monitoramento das variações temporais dessas propriedades, ou ambos. Para que um dado alvo possa ser detectado é preciso que ele apresente um contraste suficiente da propriedade física investigada em relação ao meio circundante.

Uma característica dos métodos geofísicos é a possibilidade de geração de dados de forma contínua e com grande cobertura espacial, o que permite um planejamento adequado da malha de sondagens, isto é, amostragem direta para fins de caracterização e monitoramento da área investigada.

O planejamento de um programa de investigação geofísica deve prever a possibilidade de alterar ou acrescentar atividades, a fim de complementar e/ou suportar mudanças na interpretação das condições da área. Os levantamentos geofísicos devem ser realizados em etapas sucessivas: reconhecimento, detalhamento e, eventualmente, monitoramento.

A etapa de reconhecimento destina-se à identificação das condições naturais do ambiente (background) e das condições anômalas. As etapas posteriores de investigação geofísica devem detalhar a caracterização pelo adensamento espacial dos dados e, eventualmente, monitorar suas variações temporais. Alguns métodos geofísicos permitem uma interpretação preliminar qualitativa.

Entretanto, todos os métodos necessitam de um processamento mais elaborado antes de qualquer interpretação quantitativa. O processamento e a interpretação dos dados devem ser conduzidos por profissionais qualificados e experientes a fim de garantir que o modelo seja consistente com as condições geológicas, hidrogeológicas e ambientais da área investigada. A caracterização da área investigada deve ser alcançada pela interpretação integrada dos dados disponíveis, podendo, inclusive, utilizar dados de um ou mais métodos geofísicos disponíveis.

A capacidade dos métodos geofísicos de superfície para detectar um alvo diminui com o aumento da sua profundidade, assim como a profundidade de investigação diminui com o aumento da frequência, em Hz, de operação. Alguns métodos geofísicos são ambíguos, ou seja, diferentes alvos podem resultar em respostas geofísicas semelhantes.

Pode-se dizer que os métodos geofísicos são técnicas indiretas de investigação das estruturas de subsuperfície através da aquisição e interpretação de dados instrumentais, caracterizando-se, portanto, como métodos não invasivos ou não destrutivos. Essa metodologia permite avaliar as condições geológicas locais através dos contrastes das propriedades físicas dos materiais de subsuperfície, por exemplo condutividade ou resistividade elétrica, permissividade dielétrica, magnetismo, densidade, etc., que podem ter como origem as diferenciações litológicas e outras heterogeneidades naturais ou não.

Uma das principais vantagens da aplicação das técnicas geofísicas em relação aos métodos tradicionais de investigação de subsuperfície, como, por exemplo, as sondagens, é a rapidez na avaliação de grandes áreas com custo relativamente menor. Além disso, os levantamentos geofísicos propiciam a execução de perfis contínuos, possibilitando a identificação com maior precisão das variações laterais decorrentes das mudanças litológicas ou originadas pela presença da contaminação subterrânea.

No diagnóstico ambiental de áreas contaminadas, a realização de levantamentos geofísicos tem por objetivo básico a identificação da presença da contaminação subterrânea, além da definição das feições geológicas e hidrogeológicas dos locais investigados. As características do meio geológico, além da natureza da contaminação, podem determinar o comportamento dos contaminantes em subsuperfície. Nesse contexto, a interpretação dos dados geofísicos pode contribuir para a obtenção de informações sobre a litologia, estratigrafia, profundidade do nível d’água, profundidade do embasamento, presença de falhas ou fraturas, existência de aquíferos importantes, caminhos preferenciais de propagação subterrânea e outras feições geológicas de interesse.

A realização dos levantamentos geofísicos pode ser efetuada nas diferentes etapas de atividades estabelecidas para o gerenciamento de áreas contaminadas:

• Na etapa de investigação confirmatória, as técnicas geofísicas são utilizadas para localizar os pontos de amostragem mais adequados, através da determinação de anomalias que representam os locais com maiores concentrações de contaminantes (hot spots);

• Quando da investigação detalhada e investigação para remediação, os métodos geofísicos podem ser empregados para o mapeamento e monitoramento da propagação da contaminação;

• Na fase de remediação de áreas contaminadas, estes métodos podem ser aplicados na avaliação da eficiência dos trabalhos de recuperação pela confirmação das reduções das concentrações dos contaminantes.

Existe uma variedade de métodos geofísicos que podem ser utilizados nos estudos ambientais, porém os principais e mais adequados métodos, que comumente são aplicados à investigação da contaminação do solo e da água subterrânea, são o georradar (GPR), o eletromagnético indutivo (EM), a eletrorresistividade (ER) e a magnetometria.

Mauricio Ferraz de Paiva é engenheiro eletricista, especialista em desenvolvimento em sistemas, presidente do Instituto Tecnológico de Estudos para a Normalização e Avaliação de Conformidade (Itenac) e presidente da Target Engenharia e Consultoria -  mauricio.paiva@target.com.br
Para mais informações sobre a norma, clique no link:
NBR 15935 de 03/2011 - Investigações ambientais - Aplicação de métodos geofísicos








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