SEGUNDA DOSE DE VACINA CONTRA HPV OCORRE EM SETEMBRO
Objetivo é imunizar brasileiras entre 11 e 13 anos
A partir de 1º de setembro, começa a distribuição da segunda dose das vacinas quadrivalentes de imunização gratuita contra o papilomavírus humano, o HPV, nos postos de saúde brasileiros. A imunização começou a ser oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em março. O objetivo do Governo Federal é imunizar meninas, com idades entre 11 e 13 anos, com três doses. Conforme o Ministério da Saúde, na primeira dose, em três meses de campanha, mais de quatro milhões de meninas foram vacinadas, número que representa cerca de 84% do público-alvo total, formado por cinco milhões de adolescentes.
O oncologista e presidente do conselho administrativo da Oncoclínicas do Brasil Bruno Ferrari afirma que a gratuidade da imunização é um avanço, uma vez que a vacina existe em serviços brasileiros particulares e custa até R$ 800. “A vacina imuniza contra quatro dos mais agressivos subtipos do HPV e pode reduzir, consideravelmente, os registros de câncer de colo de útero”, observa.
O especialista lembra que a doença é a terceira principal causa de óbitos por câncer feminino no mundo, atrás apenas do câncer de mama e do colorretal, e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil. “O Instituto Nacional do Câncer revelou que em 2013 foram registrados quatro mil óbitos de brasileiras pela doença. Para 2014, a estimativa de novos diagnósticos da doença é de 15, 5 mil”, alerta.
Conforme orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), a primeira e a segunda doses devem ser espaçadas por um mês e, a terceira, aplicada depois de seis meses. O vírus conta com cerca de 100 subtipos e é transmitido por relações sexuais, cujos representantes são alguns dos principais agentes causadores do câncer de colo de útero, também conhecidos como câncer cervical. As meninas, pelo menos em teoria, não tem vida sexual ativa e, por isso, não estão contaminadas pelos tipos do vírus abrangidos pela vacina, garantindo a imunização.
“O resultado dessa vacinação massiva, que pretende atingir pelo menos 80% das 3,3 milhões de brasileiras incluídas na faixa etária definida pelo Governo, será registrado com o tempo. A expectativa é que, à medida que as meninas cresçam e se tornem sexualmente ativas, estejam protegidas contra as formas mais perigosas do HPV”, explica Ferrai.
O oncologista destaca ainda que, embora a ação seja importante na luta contra o câncer, a vacina não deve dar a sensação de proteção total e ser tomada como único método de prevenção. “É importante ressaltar, contudo, que isso não elimina a necessidade de se manter as principais medidas preventivas contra a doença. É o caso do uso dos preservativos, bastante eficazes para evitar a contaminação e, da realização frequente do exame Papanicolau, pelo menos uma vez ao ano, entre as mulheres com atividade sexual”, recomenda.
Segundo a ginecologista e presidente da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig) Maria Inês de Miranda Lima, a maioria das pessoas elimina o vírus ao longo dos anos e, somente 10%, apresentam infecções clínicas, sendo que, em alguns casos, as mulheres podem desenvolver o câncer de colo de útero. “Quando o vírus não é eliminado pelo organismo, pode se manifestar por meio do aparecimento de verrugas, mais conhecidas como condilomas, que podem ser genitais, perianais ou em outros órgãos. O mais perigoso e frequente, principalmente em mulheres, é o HPV 16, causador do câncer de colo de útero”, explica.
A ginecologista esclarece que as mulheres que passam por consultas preventivas regulares podem ter qualquer alteração detectada com exame clínico e citológico, conhecido como Papanicolau. Mesmo assim, somente 30% delas fazem o exame periodicamente. “A maioria, por não apresentar sintomas da doença, não realiza os exames rotineiros e acaba sendo surpreendida com lesões de grau avançado ou com câncer invasivo”, conta. O resultado é o número de ocorrências registradas pelo Instituto Nacional do Câncer - mais de 18 mil novos casos de câncer do colo uterino no Brasil por ano e, aproximadamente, 4,8 mil mortes em decorrência da doença. O tempo entre a infecção pelo vírus de alto risco e o desenvolvimento do câncer pode variar em torno de dez anos.
Maria Inês esclarece que a vacina também é indicada pelos médicos para pessoas com idade entre nove e 26 anos. “É importante conscientizar a população sobre a importância de estender essa idade para vacinação. O momento ideal para a vacinação é antes de ter contato sexual, mas, caso isso não aconteça, não existe contraindicação após iniciada a relação, ou mesmo se a pessoa já teve HPV. A imunização protegerá contra tipos específicos oncogênicos. A vacina quadrivalente também é indicada para homens na mesma faixa etária”, acrescenta.
Atualmente, duas vacinas contra os tipos mais presentes de câncer de colo do útero (HPV-16 e HPV-18) são comercializadas no Brasil. Contudo, a ginecologista afirma que o real impacto da vacinação só poderá ser observado após décadas. “Mesmo depois de instituída a vacinação, o resultado na redução do câncer só será percebido em vários anos. Por isso, a prevenção ainda é o melhor remédio, através da utilização de preservativo antes e durante o ato sexual e da visita periódica ao especialista para realização de exames preventivos”, conclui.