REPOSIÇÃO HORMONAL PODE ESTAR LIGADA AO CÂNCER DE MAMA
Pesquisas e especialistas levantam possibilidade do tratamento aumentar chances de desenvolver a doença
Enquanto milhares de mulheres recorrem à terapia de reposição hormonal para aliviarem os sintomas da menopausa, estudos discutem se o tratamento pode estar associado ao aumento relativo de câncer de mama. Pesquisa publicada no "Journal of the National Cancer Institute" chegou à conclusão de que existe relação entre o câncer de mama e a reposição hormonal na menopausa, principalmente, quando há combinação de estrogênio e progestina no tratamento. 42 mil mulheres na menopausa, com idade entre 50 e 70 anos, foram acompanhadas durante 11 anos em média. Dessas, 25 mil não recorreram ao tratamento e mais de 16 mil faziam a terapia hormonal combinada, ou seja, tomavam estrogênio e progestina. Ao final da análise, mais de 200 mulheres que realizaram o tratamento combinado sofreram com câncer de mama. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Minas Gerais, Clécio Lucena, ainda há controvérsias e muitas pesquisas relacionadas aos efeitos colaterais da reposição hormonal. Entretanto, o mastologista acredita que o tratamento com estrógeno pode aumentar até em 15% as chances de a mulher ser acometida pelo câncer de mama com o uso prolongado e em até 100%, caso esteja tomando estrógeno e progesterona. Em números absolutos, parece haver um acréscimo de 8 casos para cada 10.000 mulheres sob uso de terapia hormonal. Entretanto, vale destacar a grande controvérsia sobre esse tema na literatura científica.
Uma das justificativas para o incremento do risco é que as mulheres que iniciam a terapia hormonal perto da menopausa apresentam níveis de estrogênio aumentados, o que equivale a um índice acima do seguro para o organismo. Esses hormônios em associação agem diretamente na célula mamária, aumentando a chance desta se transformar em tumor maligno. Entretanto, Lucena explica que não é possível determinar se a reposição hormonal é a causadora ou, de certa forma, potencializa o desenvolvimento da doença. “Os ovários produzem estrógeno abaixo do ideal quando a mulher está passando pela menopausa, gerando os sintomas desagradáveis causados pela menopausa, como excesso de calor, menstruação irregular, irritabilidade, suores noturnos e até diminuição da memória. Isso ocorre, geralmente, a partir dos 40 anos de idade, período em que aumentam as chances de câncer de mama”, explica.
De acordo com o mastologista, a reposição hormonal na pós-menopausa vem sendo questionado quando recomendado para todas as mulheres e a paciente precisa estar consciente de que a terapia pode apresentar efeitos colaterais importantes. Mesmo sem a confirmação do risco, sabe-se que os tumores de mama se desenvolvem pelo estímulo hormonal, presente nas terapias hormonais da menopausa. “É importante procurar um médico ginecologista para realizar os exames que determinarão o tratamento mais adequado no período da menopausa. Sabemos que cada organismo reage de determinada forma e que se deve observar outros fatores que influenciam no desenvolvimento do câncer, como os fatores genéticos, obesidade, sedentarismo, exposição a alguns agentes de risco, dentre outros. O acompanhamento médico é essencial nessa fase”, aponta o médico.
O mastologista ressalta que o câncer de mama é a doença que mais mata mulheres no Brasil - mais 10 mil óbitos por ano, segundo o Ministério da Saúde. Por isso, é preciso realizar os exames preventivos. A detecção mais segura é a mamografia e em algumas situações o ultrassom e a ressonância nuclear magnética de mama, responsáveis por identificar tumores com até um centímetro. Nessa fase, 95% dos casos são tratáveis com sucesso. “O exame é indicado a partir dos 40 anos, mas o médico pode solicitar antes dessa idade em casos de fatores de risco, como histórico familiar da doença. O autoexame das mamas é essencial. Sintomas como o aparecimento de nódulos, mudança no tamanho e forma, saída de secreções claras ou sanguinolentas e feridas na pele podem ser um sinal para procurar um médico o quanto antes”, alerta Lucena.