Pesquisa da UFMG mostra que um terço dos pacientes renais estão expostos a riscos no Brasil
Quase um terço, mais exatamente 31,25%, dos pacientes renais brasileiros estão expostos a riscos de infecção, internação e inclusive de morte. A afirmação é de Gisele Macedo, autora de dissertação de mestrado em Saúde Pública, defendida na Faculdade de Medicina da UFMG. Para o trabalho, ela analisou população de 25.557 pacientes que iniciaram tratamento hemodialítico entre 2000 e 2004, pelo SUS.
Segundo a pesquisadora, 80% dos pacientes com doenças renais crônicas que começam o tratamento usam um tubo, o cateter, que deve ser temporário. A recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é de que o prazo máximo para uso de “acesso de emergência” seja de 90 dias. Apesar disso, “25% de todos os pacientes em tratamento com o cateter no Brasil estão permanecendo, em média, quatro meses com ele. Um mês a mais correndo riscos desnecessários”, afirma a autora. Ela avalia ainda que esses números escondem uma realidade mais séria. “Foram observados casos extremos, em que o paciente chegou a ficar até quatro anos com o cateter”, alerta.
“O correto seria encaminhar esses pacientes rapidamente para a confecção de um acesso vascular permanente, chamado fístula artério-venosa, ou FAV”, esclarece a professora da Faculdade de Medicina Mariângela Leal Cherchiglia, orientadora da dissertação. Além da demora no encaminhamento, as pesquisadoras afirmam que há número insuficiente de profissionais no SUS para fazer a FAV. Elas observam também que os próprios portadores das doenças renais não exigem dos médicos esse encaminhamento, pois desconhecem sua necessidade. Gisele Macedo defende que a divulgação ampla desse fato é muito importante para que o cidadão possa exigir os seus direitos.
Demora
A doença renal crônica tem como causas a hipertensão arterial e o diabetes mellitus. Por conta dessa conexão, boa parte dos pacientes já está sendo atendida por centros de saúde. Segundo as pesquisadoras, esse atendimento poderia evitar ou retardar a chegada do paciente renal à condição de doente terminal.
“Estudos mostram que a população frequenta os centros de saúde, mas, pelo que tudo indica, os médicos não estão se lembrando de monitorar o funcionamento dos rins”, alerta Eli Iola Gurgel. Para reverter o quadro, o grupo defende a criação de campanhas de incentivo ao monitoramento do funcionamento renal, para pacientes e profissionais de saúde.
Além disso, é sugerida a utilização do período entre a entrada do paciente na clínica de diálise até o dia da confecção do acesso vascular permanente (FAV) como indicador de qualidade que possibilite o monitoramento desses serviços. "Acredito que, assim, as clínicas de hemodiálise se esforcem para diminuir esse prazo”, conclui Gisele Macedo.