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CIA ANANDA DE DANÇA CONTEMPORÂNEA ESTREIA “OUTRAS DE NÓS”
 
Montagem trata do universo feminino a partir de trabalho realizado com mulheres em situação de cárcere.
Espetáculo estreia no dia 14 de março, sábado, no Galpão Cine Horto

 
A Cia Ananda de Dança Contemporânea, fundada em 2017 pela dançarina e coreógrafa Anamaria Fernandes, estreia o espetáculo “Outras de nós”, uma criação que trata do universo feminino. O trabalho entrelaça vozes de diferentes mulheres, encarnadas no corpo de duas dançarinas, Beatriz Nobel e Duna Dias. O projeto teve início por meio de uma interlocução com um trabalho de dança realizado por Anamaria Fernandes, que assina a direção da montagem, no Setor Psicológico da Penitência de Mulheres da cidade de Rennes, França.  “O encontro com essas mulheres foi muito forte e devastador para mim, maravilhoso e inesperado. Foi antes de tudo um encontro com mulheres e não com presidiárias. Claro que num contexto específico, eram mulheres que estavam cumprindo longas penas, mulheres de diferentes países e de diferentes idades, atrás de grades, atrás de tantos muros e vigiadas por tantos olhos. Encontrei mulheres com suas histórias, com seus sonhos, que se ajudam, que estão juntas mas sozinhas ao mesmo tempo. Compartilhamos risos, choros, danças e muitas histórias. Esse espetáculo é atravessado por esta vivência e vozes de outras mulheres, sobretudo das dançarinas.”, explica a diretora. A estreia é no dia 14 de março, sábado, às 20h, no Galpão Cine Horto. Haverá cinco lugares reservados a pessoas cegas, e disponibilização de audiodescrição instantânea.
 
No processo de criação deste espetáculo, a presença dessas mulheres em situação de cárcere, se deu por meio de gravações áudio feitas com elas e de frases escritas por elas. Na montagem, escutamos alguns momentos dessas gravações.  Essas vozes também estão presentes no vídeo dança À travers, criado no Brasil em 2019, com bailarinas da cia Ananda, e que foi apresentado no Setor Psicológico da Penitência de Mulheres da cidade de Rennes, inclusive com a presença de Duna Dias. “Os dois trabalhos são o fruto do atravessamento de histórias de vida compartilhadas, que viajaram os dois continentes e fizeram com que essas mulheres se encontrassem sem se encontrar diretamente”, adianta Anamaria. 
 
“Outras de nós” dialoga também com outros elementos que compartilham a temática do feminino, como o livro de Clarice Lispector “A Paixão Segundo G.K.” e fotos de mulheres prostitutas da Índia, feitas pelo fotógrafo francês Pierre Bernardi. Para Anamaria Fernandes, “Outras de nós” foi criada a partir de realidades e culturas diferenciadas, mas que trazem algo em comum.  “São países diferentes, mas que infelizmente têm em comum, a violência contra as mulheres. Isso em quase todo o mundo, aliás, desconheço um país que não exista a violência contra a mulheres. Segundo a Onu, 7 em casa 10 mulheres foram ou serão violentadas no mundo. Alguns estudos de sociólogos apontam que de 80 a 95 por cento de mulheres em situação de cárcere sofreram violência por parte de homens. Esta violência está presente na montagem, ao mesmo tempo que está a força e a beleza dessas mulheres”, revela Anamaria.
 
Para a diretora, a dança também tem seu papel político e social em tratar de temas importantes como esse. “A dança, assim como todas as artes, é um lugar importante de reivindicação, de resistência e de protesto. Todas as artes têm a sua força, a dança é o nosso meio de comunicação e expressão. Foi para nós muito importante estrear este espetáculo no mês em que festejamos o dia internacional da mulher. Além disso, o dia da estreia marca os dois anos da morte de Marielle Franco. Ela não está ligada diretamente ao nosso trabalho, mas indiretamente, como a voz de mais mulher, brutalmente e covardemente assassinada. O conhecimento que tenho de presídios de mulheres no Brasil mostra uma precariedade de atendimento e de estrutura que são terríveis. O que se difere da França. Mesmo que lá se fale de precariedade, é incomparável o que elas podem ter na prisão de lá, como o que têm as mulheres em situação de cárcere no Brasil. É certo que nossa economia nacional não é a mesma, mas acredito que o problema real não é esse e sim uma questão de prioridades. E vemos neste governo que a prioridade não está neste lugar do social, nem dos direitos humanos, nem no direito das mulheres, nem na justiça, nem na luta contra a discriminação e desigualdade. Então, trazer essas vozes, é muito forte e importante. Foi um processo de criação de muitos atravessamentos, de compartilhamentos e de muitas lágrimas”, revela.  
 
Nos corpos das dançarinas ressoam vozes múltiplas que se cruzam e se enlaçam como fios de uma teia. Um trabalho feito com muito cuidado e carinho, que entrelaça gritos e segredos, filetes íntimos e protestos. Uma criação que perpassa diferentes temporalidades, espaços e realidades. Muitas de nós, todas de nós, outras de nós. 
 
Ficha técnica
Direção Artística: Anamaria Fernandes / Intérpretes criadoras: Beatriz Nobel e Duna Dias / Composição sonora: Gustavo Félix / Figurino: Deise Menezes Guimarães
Iluminação: Pâmela Rosa/ Vídeo: Luiza Nobel / Produção: Duna Dias, Jo Caravelli, Juliana Cancio, Luana Magalhães e Samuel Carvalho / Roteiro de audiodescrição: Natalia Candido/Audiodescritores: Bianca Sanches, Heloisa Rodrigues, Luana Magalhães, Maisa Do Carmo e Natalia Candido / Fotos: Juliana Cancio/ Assessoria de imprensa: Luz Comunicação - Jozane Faleiro 
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